TREINAMENTO DE JUDÔ A LONGO PRAZO
Por Prof. Leonardo J. Mataruna dos Santos / Mariana V. de Melo
Este é a primeira de três partes deste artigo do Prof. Mataruna.
Introdução
O nível de desempenho esportivo depende de um conjunto de potenciais físicos, psicológicos, intelectuais, táticos e técnicos. Para que se atinja um alto e equilibrado nível entre estes componentes da alta performance, há necessidade de um planejamento minucioso do processo de treinamento.
O presente estudo apresentará um sistema de treinamento a longo prazo na busca de futuros atletas de alta performance, desde a sua fase pré-escolar até a sua fase adulta, visando evitar um desgaste desnecessário no processo de treinamento e objetivando um rendimento máximo no judô.
No Brasil encontramos diversos técnicos ou treinadores utilizando diferentes metodologias de treinamento, porém poucos são os que utilizam um treinamento a longo prazo (Mataruna dos Santos, 1999). O mesmo autor justifica a pouca utilização desta metodologia desde o início da criança neste esporte: "As turmas de Judô são muito heterogêneas e numerosas, dificultando um trabalho individualizado".
Observamos que na prática do treinamento de judô é frequente a especialização precoce. Apresentamos neste estudo uma abordagem sobre a tendência, sobretudo de treinamento físico, mas sem desprezar o aspecto cognitivo, que aponta para um treinamento a longo prazo.
Divisões de um Treinamento a Longo Prazo
PERIODIZAÇÃO A LONGO PRAZO
FASE BÁSICA
(1ª ETAPA)
PREPARAÇÃO
PRELIMINAR
FORMAÇÃO
PRÉ-ESCOLAR À
ESCOLAR TARDIA
(2ª ETAPA)
ESPECIALIZAÇÃO
INICIAL
FORMAÇÃO +
RENDIMENTO
PUBESCÊNCIA
FASE
ESPECÍFICA
(3ª ETAPA)
ESPECIALIZAÇÃO
APROFUNDADA
RENDIMENTO +
FORMAÇÃO
ADOLESCÊNCIA
(4ª ETAPA)
PRESTAÇÕES
MÁXIMAS
RENDIMENTO
ELEVADO
IDADE
ADULTA
5ª ETAPA
MANUTENÇÃO
IDADE
ADULTA
Observações Gerais:
1. As mudanças de fases não são fixas sendo dependentes da maturação biológica individual;
2. Até a pubescência, inclusive, o período de transição coincidirá com as férias escolares da criança;
3. Durante a primeira etapa, as competições devem ser adaptadas a realidade infantil, sem buscar resultados;
4. Na segunda etapa a criança já pode experimentar as competições tradicionais, sem exigência de resultados;
5. A partir da adolescência, terceira etapa, inicia-se a busca dos primeiros resultados;
6. Já nas duas últimas etapas, verifica-se os índices máximos das competições do indivíduo.
7. A periodização refere-se a indivíduos do sexo masculino.
8. Ao final da terceira e inicio da quarta etapa, iniciam-se as competições de nível internacional, objetivando o acúmulo de experiências necessárias para o atingimento da alta performance.
9. As capacidades condicionantes são aquelas conhecidas como capacidades físicas, e são resistência, força, velocidade e flexibilidade. Um desempenho ótimo nestas capacidades, depende, entre outros fatores, da experiência motora vivenciada pela criança.
10. As capacidades coordenativas são as habilidades motoras, determinadas sobretudo, pelo processo de controle dos movimentos. Aos dez anos de idade aproximadamente, o sistema nervoso central já está praticamente igual ao de um indivíduo adulto, e por esta razão, estas capacidades devem ser bem desenvolvidas até esta faixa etária.
Treinamento Tático
O Judô, assim como outros esportes de luta, vêm acumulando com o passar dos anos um componente tático cada vez maior em competições de alto nível. Conforme Weineck (1999), o emprego da tática somente é possível quando o atleta dispõe da técnica necessária, de capacidade cognitiva e capacidade psicofísica. Pode-se afirmar que um treinamento tático foi eficiente quando o atleta consegue atingir na competição um comportamento ideal, mobilizando todo o seu potencial individual.
O treinamento tático no Judô deve ser iniciado o quanto antes, juntamente com a técnica, sendo que na formação esportiva, durante as fases pré-escolar e escolar tardia, deve ser feito de forma lúdica, através de jogos.
Treinamento Técnico
Técnica esportiva são os processos desenvolvidos, geralmente pela prática, para resolver mais racional e economicamente um problema motor determinado. A técnica de uma modalidade esportiva corresponde a um certo tipo motor ideal que, mesmo conservando os seus caracteres motores, pode sofrer uma modificação que corresponde aos dados individuais (Weineck, 1986). Segundo Silva (2000), técnica é o conjunto de movimentos realizados em uma seqüência determinada pela biomecânica e por leis da física.
O caminho para a perfeição técnica no esporte é definido em primeiro lugar pelo nível inicial da técnica e pelas experiências motoras adquiridas (Djakov, 1973 : In Silva, 2000). Na concepção de Silva (2000), preparação técnica é um processo de ensino ao atleta das ações motoras que constituem a atividade competitiva e servem de meio ao treinamento. Desta forma, as principais tarefas desse treinamento consistem na formação do nível do domínio das ações motoras que permitam ao atleta a resolução de tarefas motoras durante os treinamentos e competições com maior eficiência.
A preparação técnica do desportista está numa interligação orgânica com a preparação física. O papel determinante, nesta interligação pertence à preparação física, que constitui condição importante na assimilação da técnica desportiva. O nível do estado de preparação exerce respectivas influências sobre o preparo físico, acelera ou trava seu desenvolvimento (Matvéiev, 1983).
No treinamento técnico, procura-se partir de um valor constatado (nível de habilidade motora em eu se encontra o atleta) a um valor procurado (tipo ideal motor). Deve ser destacado que para o estabelecimento de um modelo técnico ideal é necessária uma análise científica da estrutura física do desenvolvimento motor de conjunto (Martin, 1977: In Silva 2000).
O treinamento técnico passa por vários níveis de aprendizagem (Silva, 2000: modificado por Mataruna & Mello, 2000). Esses níveis podem ser divididos em:
• Nível de informação e compreensão: o atleta é ajudado por suas experiências motoras e sua capacidade concomitante de observação e de concepção.
• Nível de coordenação rústica: caracteriza-se pelo esforço excessivo e parcialmente errado, brusquidão no desenvolvimento temporal, execução angulosa do movimento, amplitude insuficiente do movimento, cadência motora falsa e pela falta de precisão motora.
• Nível de coordenação fina: caracteriza-se pelo gasto adequado de força, amplitude e ritmo motores racionais, movimento fluído.
• Nível de consolidação, aperfeiçoamento e de disponibilidade variável: neste momento instala-se a coordenação apurada do movimento que funciona com êxito mesmo em condições difíceis ou não habituais. A automatização parcial do movimento permite que o esportista centralize sua atenção nos pontos críticos de desenvolvimento motor. Os fenômenos aferentes são a precisão, a constância e a harmonia dos movimentos.
Na próxima parte o Prof. Mataruna desenvolve em maiores detalhes as metodologias específicas de treinamento em cada estágio.
O Prof. Leonardo J. Mataruna dos Santos é Pós-Graduado em Judô pela Univ. Federal do RJ / Centro de Capacitação Física do Exército / Federação de Judõ do Estado do RJ; Pós-Graduado em Docência de Ensino Superior pela Univ. Cândido Mendes-RJ; Pós-Graduado em Treinamento de Recursos Humanos pela Assoc. Brasileira de Tecnologia Educacional; Bacharel e Licenciando em Educação Física pela Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ; Prof. Visitante de "Educação Física: Profissão e Conhecimento" - EEFD/UFRJ; Coordenador do Grupo de Estudos em Saúde Pública Aplicados à Atividade Física - EEFD/UFRJ; Diretor do Depto. de Pesquisa Científica da FJERJ; Fisiologista da Equipe de Judô do C.R. Vasco da Gama.
E-mail: mataruna@ruralrj.com.br
Mariana V. de Melo é Mestranda em Ciências da Motricidade Humana pela Univ. Castelo Branco-RJ; Pós-Graduada em Treinamento Desportivo pela Univ. Federal do RJ / Centro de Capacitação Física do Exército / Federação de Judô do Estado do Rio de Janeiro; Pós-Graduada em Judô pela Univ. Federal do RJ / Centro de Capacitação Física do Exército / Federação de Judô do Estado do RJ.