A PREPARAÇÃO FÍSICA NO JUDÔ
por Marcus Albuquerque*
Os primeiros passos para um trabalho eficiente de preparação física passam pela identificação das particularidades do esporte. O judô, em sua forma original e desportiva, facilita bastante esta análise. Afinal, trata-se de uma modalidade relativamente nova dentre as demais - data de 1882 - e está baseada em dados científicos e filosóficos bem elaborados por seu criador, professor universitário e pesquisador dos campos social e de cultura física no Japão, Jigoro Kano.
Temos, então, que traçar um paralelo entre o objetivo da luta (a vitória por ippon ou por pontos), os meios de consegui-lo e o tempo que dispomos para tal. Identificados estes dados, partimos para o plano geral de treino, que deve ter um ponto de partida (período de base) e um de chegada (competição alvo). Desta forma, encerra-se um macrociclo de trabalho, em que serão expostos os meios para maximizar o rendimento do atleta.
O Judô se caracteriza por peculiaridades únicas, detalhes fundamentais para o rendimento do treino elaborado:
- é formado completamente por posições anatômicas anti-naturais;
- trabalha, durante uma competição, com ênfase nos sistemas energéticos anaeróbico lático(1’a 5’) e alático(0 a 30"), com predominância deste último;
- desenvolve um trabalho de resistência muscular localizada para musculatura "operária", como as lojas flexo-extensoras de ante-braço, panturrilha e musculatura intrínseca da cintura pélvica;
- apresenta configuração de trabalho de potência anaeróbica das grandes massas musculares, com contrações concêntricas de um lado do corpo e excêntricas do outro (agonista/ antagonista).
Após esta análise, fica claro que, desde o trabalho de base, a ação motora dos treinos deve ser bastante específica, concentrando-se a carga aeróbica e o trabalho muscular sobre variações das técnicas mais usadas pelo atleta (tokui waza). É a forma de garantir uma economia energética para recuperação fisiológica durante os intervalos das lutas, tendo em vista que, em algumas competições, luta-se até sete vezes ou mais, na pior das hipóteses.
Com um trabalho de base e pré-competitivo construído sobre a técnica e os sistemas aeróbio/anaeróbio lático, a fase específica e de competição torna-se um puro lapidar de nossa jóia maior, o atleta, para quem todas as atenções devem estar voltadas, como forma de não perder-se o feedback necessário a possíveis alterações na rotina de treinamento.
No mais, se você é atleta, procure um professor de Educação Física especializado na área de treinamento e, se você é professor ou instrutor, procure cercar-se de profissionais competentes e não restrinja acesso à bibliografia especializada sobre o assunto. A atualização é um diferenciador na formação profissional.
Saudações judoístas.
(*) Marcus Albuquerque é preparador físico da FJERJ